Políticas e compromissos ESG: o legado da mineração sustentável

18/08/25 - 18:31 | Uncategorized

Como as práticas ambientais, sociais e de governança estão transformando o setor mineral.

A mineração é, historicamente, uma das atividades mais desafiadoras quando se fala em sustentabilidade. Os impactos ambientais, como desmatamento, geração de rejeitos e poluição de rios, somados a problemas sociais, como deslocamento de comunidades e condições de trabalho, fizeram com que o setor fosse amplamente criticado nas últimas décadas. No entanto, uma mudança significativa vem acontecendo, impulsionada pelo avanço das políticas ESG (Environmental, Social and Governance).

O conceito de ESG se refere ao conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança adotadas pelas empresas para garantir não apenas resultados financeiros, mas também responsabilidade socioambiental e ética corporativa. No setor mineral, essas práticas têm se tornado um diferencial competitivo e, ao mesmo tempo, uma exigência de investidores, governos e da sociedade.

O que significa ESG na mineração

Na mineração, “E” de Environmental está relacionado ao controle de emissões, gestão de resíduos, redução de consumo de água e energia e recuperação de áreas degradadas. O “S” de Social diz respeito ao respeito às comunidades locais, aos povos indígenas, à segurança dos trabalhadores e ao diálogo transparente com a sociedade. Já o “G” de Governança envolve transparência, combate à corrupção, auditorias independentes e respeito a leis nacionais e internacionais.

Um relatório do World Economic Forum aponta que a adoção de práticas ESG no setor de mineração e metais é fundamental para garantir o fornecimento sustentável de minerais críticos à transição energética, como lítio, cobre, níquel e cobalto.

Pressão de investidores e mercados

A crescente demanda global por minerais estratégicos, impulsionada pela produção de baterias, energias renováveis e veículos elétricos, faz com que mineradoras precisem comprovar não apenas eficiência produtiva, mas também responsabilidade socioambiental.

Instituições financeiras e fundos de investimento já condicionam aportes ao cumprimento de indicadores ESG. Em 2021, por exemplo, o Global Sustainable Investment Alliance (GSIA) estimou que mais de US$ 35 trilhões em ativos financeiros estavam vinculados a critérios ESG no mundo. Para o setor mineral, isso significa que empresas que não adotarem boas práticas podem ser excluídas de financiamentos e perder espaço no mercado global.

Casos no Brasil

O Brasil, como um dos principais players mundiais de mineração, tem visto grandes empresas do setor reforçarem seus compromissos ESG. A Vale, após os desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), vem ampliando investimentos em recuperação ambiental, descomissionamento de barragens a montante e monitoramento de riscos. A companhia também anunciou a meta de neutralidade de carbono até 2050 (Vale – Relatório de Sustentabilidade).

Outras empresas, como a Anglo American e a Nexa Resources, também vêm divulgando relatórios anuais de sustentabilidade, detalhando metas de redução de emissões, programas de relacionamento com comunidades e investimentos em inovação para gestão de rejeitos.

Políticas públicas e normas internacionais

Além da pressão de investidores, governos e organismos internacionais têm estabelecido padrões para mineração sustentável. No Brasil, a Agência Nacional de Mineração (ANM) exige relatórios ambientais e de segurança, enquanto normas como a ISO 14001 (gestão ambiental) e a ISO 45001 (segurança ocupacional) são adotadas por empresas que buscam certificações internacionais.

A nível global, a Iniciativa para Mineração Responsável (IRMA – Initiative for Responsible Mining Assurance) estabelece parâmetros independentes de sustentabilidade, reconhecidos por compradores internacionais de minerais. Essas certificações funcionam como uma espécie de “selo verde” para garantir que o produto mineral não esteja associado a violações ambientais ou sociais.

O legado ESG para o futuro da mineração

Se antes a mineração era vista como uma atividade incompatível com sustentabilidade, o avanço das práticas ESG está mudando essa percepção. Ao adotar metas de neutralidade de carbono, projetos de energia renovável, recuperação de áreas degradadas e programas de inclusão social, o setor se posiciona como parte da solução para os desafios climáticos globais.

O legado ESG vai além do curto prazo. Ele significa criar um novo modelo de mineração, no qual a atividade é planejada desde o início para gerar menos impactos, compartilhar benefícios com as comunidades e garantir governança ética e transparente.

Como reforça a ONU – Pacto Global, o setor mineral pode desempenhar um papel estratégico no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente no que se refere à energia limpa, trabalho decente e ação climática.

Conclusão

As políticas e compromissos ESG não são apenas uma tendência, mas uma necessidade para a sobrevivência da mineração no século XXI. Empresas que se adequarem terão acesso a mercados, financiamentos e licenças sociais para operar. Já aquelas que ignorarem esse movimento correm o risco de perder relevância e enfrentar crescentes barreiras regulatórias.

O futuro da mineração sustentável depende, em grande parte, da consolidação das práticas ESG como padrão mínimo para todo o setor, transformando desafios históricos em oportunidades de inovação, credibilidade e legado positivo.